Muitas vezes os psicólogos pensam que trabalhar com a cirurgia bariátrica se resume a fazer a avaliação psicológica do paciente para determinar se ele se encontra apto ou não a se submeter ao procedimento. No entanto, o trabalho do psicólogo no contexto da cirurgia bariátrica é muito mais abrangente, sendo a avaliação psicológica apenas uma parte desta intervenção.

A atuação do psicólogo junto a cirurgia bariátrica envolve 3 fases: PRÉ, PERI e PÓS-OPERATÓRIA.

A fase pré-operatória compreende o período entre a primeira consulta de indicação para a cirurgia bariátrica até a internação do paciente para o procedimento. Ela se divide em 2 frentes de atuação do psicólogo que são a AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA e o PREPARO PSICOLÓGICO para a cirurgia.

Na avaliação psicológica busca-se compreender a relação do paciente com a comida, como essa afeta e é afetada por diversas áreas de sua vida. Avalia-se diversos aspectos psicológicos como ansiedade, depressão, transtornos alimentares e autoestima, além do conhecimento que paciente e família têm sobre o procedimento.

No preparo psicológico visa-se a normalização do comportamento alimentar, a desconstrução da mentalidade de dieta, comer sem culpa, desenvolver rotina alimentar e a dissociação entre comer e áreas da vida, rompendo, assim, o comer emocional.

A fase perioperatória, período entre a internação e a primeira consulta pós-operatória, é facultativa, o psicólogo pode ou não acompanhar o paciente seja no próprio hospital ou por atendimento remoto.

Neste período, a intervenção visa ajudar o paciente a compreender o procedimento cirúrgico pelo qual passou, lidar com os sentimentos que surgem a partir disso, tais como ansiedade, frustração e medo, além de ajudar o paciente a ser assertivo na sua comunicação com família e equipe. Este suporte pode se estender à família, orientando essa sobre como ajudar o paciente nesta fase, especialmente em relação à alimentação e aumento das atividades físicas.

A fase pós-operatória é o período após a primeira consulta com o cirurgião. Nesta fase, a intervenção psicológica pode acontecer em 2 modalidades: ou acompanhamento psicológico ou a psicoterapia.

No acompanhamento psicológico, o paciente consulta o psicólogo geralmente uma vez por mês no primeiro ano para receber orientações sobre o manejo das mudanças no comportamento alimentar e estilo de vida, acompanhar as consequências da cirurgia, estratégias de prevenção de reganho de peso e qualquer outro suporte psicológico pontual que se faça necessário.

A psicoterapia é indicada especialmente quando o paciente não teve tempo de fazer o preparo psicológico. Então, no pós-operatório são trabalhadas a fundo as mudanças na relação com a comida, as consequências da cirurgia, o tratamento de comorbidades psiquiátricas como ansiedade, depressão e compulsão alimentar, assim como as relações interpessoais e a prevenção do reganho de peso.

O que determina o quão ampla poderá ser a atuação do psicólogo?

No pré-operatório um fator determinante ao tempo que se tem para preparar o paciente é o estado geral de saúde dele. Conforme a gravidade das comorbidades, a cirurgia pode ser uma necessidade imediata, na qual se consegue apenas fazer a avaliação psicológica, processo que dura em média 8 a 10 sessões.

Quando há tempo hábil para realizar o preparo psicológico, o ideal é que esse processo aconteça em um prazo médio de 6 meses para que o paciente posso se habituar a um novo padrão de comportamento alimentar, além da prática de exercícios físicos e perda de peso, que é muito importante para o procedimento.

Assim, tendo em vista que a obesidade aumenta em proporções epidêmicas no mundo todo, inclusive no Brasil, onde atinge em torno de 19% da população total e que a cirurgia bariátrica é o tratamento de maior sucesso na redução de peso, é imprescindível que os psicólogos saibam tratar esses pacientes.

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